Se eu quisesse fazer uma peça começava por enunciar que ia fazer uma peça, depois anunciava-me a mim como autora dessa peça. Não lhe dava logo nome e fazia-a de uma só vez sem pensar. Porque pensar atrasa a compreensão das coisas profundas. A profundidade é silenciosa, ou por vezes há música, mas principalmente silenciosa. Desgostosa porque não está ao de cima, como as outras coisas que vemos ao de cima. Não, a profundidade está sempre por baixo, atrás, sem tona. E também não se vê. Não sai, não se integra.
Por isso se quisesse eventualmente fazer uma peça profunda, não a mostrava, ou mesmo não a faria. Já que as peças para serem feitas têm de vir ao de cima, parar-nos às mãos. Ah...e serem vistas, têm de ser vistas, e quanto mais vistas mais vistas são. E quanto mais vistosas mas vistas serão. E quanto mais gostosas mais comidas então. Uma peça até pode ser profunda se for gostosa e logo depois comida. Senão estraga-se.

E o espectáculo? O espectáculo deve ser difícil à partida, mas só como um choque inicial, que acorde os músculos, que acorde a sensibilidade, que desperte a atenção, o olhar, que acorde o pensamento...

E depois?
Depois: A aproximação do belo homem à bela mulher ao som da Internacional

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CONCEPÇÃO|INTERPRETAÇÃO Lígia Soares COLABORADORES Andresa Soares, Eduard Gabia, Emilian Gatsov, Guilherme Garrido e João Nicolau PRODUÇÃO Máquina Agradável RESIDÊNCIAS O Espaço do Tempo, Centre National de La Danse (Paris)

APRESENTAÇÕES
2011 -Negócio – ZDB, (Lisboa), Danse En Chantier (Paris)
2012- Festival Celebração – Culturgest (Lisboa)

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THE RED PIECE (2011)

If I wanted to make a piece I would begin by stating that I was making a piece, then I would announce myself as the author of that piece. At first I wouldn’t give it a title and I would try and do it at once and without thinking. Because thinking slows the understanding of the profound things. The profundity is silent, or sometimes there is music, but mostly silent. Disgusted, because it is not on the top, like the other things we see on the top. No, the profundity is always below, behind, undersurface. And it’s also not seen. It doesn’t go out, it does not integrate itself.
So if I eventually wanted to make a deep or profound piece, I wouldn’t show it, or even make it. Since the pieces to be made must afloat, to come up, to fall into our hands. Oh ... and be seen, they must be seen, the more they are seen the more visible they become. And the more showy they are the more shown they will be. And the more tasty they are the more tasted they will be. A piece may even be profound if tasty and just after eaten. Otherwise it spoils.

And the show? The show must be difficult at start, but only as an initial shock, that wakes up the muscles, that wakes up the sensitivity, which triggers the eye, the attention, that wakes up the thoughts ...

And then?
Then: A handsome man approaching the beautiful woman at the sound of The International

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CONCEPT|PERFORMANCE Lígia Soares COLLABORATION Andresa Soares, Eduard Gabia, Emilian Gatsov, Guilherme Garrido e João Nicolau PRODUCTION Máquina Agradável RESIDENCIES O Espaço do Tempo, Centre National de La Danse.

PRESENTATIONS
2011 – Negócio – ZDB, (Lisbon) Danse En Chantier (Paris)
2012 - Festival Celebração – Culturgest (Lisbon)

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